Simone Cristina Soares Brandao

Introdução: Tireoidectomia total (TT) associada a radioiodoterapia (RIT) é o tratamento de escolha na maioria dos casos de carcinoma diferenciado de tireoide. A escolha da dose terapêutica baseia-se principalmente no estadiamento anatomopatológico do tumor. Entretanto, estudos têm mostrado que fatores como idade, sexo masculino, tipo histológico e tamanho do tumor podem estar associados a pior resposta à RIT. Tireoglobulina(Tg) acima de 2ng/mL após TT e RIT é um marcador de persistência de doença. Outrossim, valores elevados de Tg pré-RIT parecem também estar associados a pior resposta à RIT.
Objetivo: avaliar a eficácia da RIT e analisar fatores associados à persistência de doença após 01 ano do tratamento.
Materiais e métodos: Uma coorte de 90 pacientes (idade média de 44,2 anos; 5 masculinos) com carcinoma diferenciado de tireoide (94,5% papilífero e 5,5% folicular) que foram submetidos à RIT pós-TT com doses de 100 a 250 mCi participaram deste estudo. Para cada paciente, foram analisados os valores de Tg estimulada, pré-dose (Tg-pré) e após 01 do tratamento (Tg-pós), associados aos resultados da varredura pós-RIT (PCI-pós) e após 01 ano da terapia (PCI-1a). A partir dessa análise, os pacientes foram classificados em 2 grupos: G1, pacientes respondedores (PCI-1a negativa e Tg-pós <2ng/mL); e G2, não respondedores (PCI-1a positiva e/ou Tg-pós >2 ng/mL). Para cada grupo foi realizada uma análise comparativa entre os valores médios de Tg-pré e Tg-pós, conjuntamente com uma análise qualitativa das PCIs. Para o estudo dos fatores que possam estar associados à persistência de doença, foram comparados os valores médios dos seguintes parâmetros entre os grupos: idade; Tg-pré; valor de TSH estimulado pré-RIT; tamanho do tumor; valor da dose. P< 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.
Resultados: 61 pacientes (67,78%) apresentaram resposta plena ao tratamento (G1), com PCI-1a negativa e Tg-pós<2 ng/ml; Dos 29 pacientes não respondedores (G2), 2 pacientes (2,22%) apresentaram PCI-1a positiva, apesar da Tg-pós<2 ng/ml; 7 pacientes (7,78%) apresentaram PCI-1a positiva e Tg-pós>2 ng/ml; e 20 pacientes (22,22%) apresentaram PCI-1a negativa, porém com valores de Tg-pós>2 ng/ml. A Tg-pós média do G1 reduziu significantemente de 5,25ng/mL para 0,30ng/mL; e no G2 de 22,92 ng/mL para 14,17ng/mL. Dos fatores analisados entre os grupos, apenas a dosagem de Tg-pré foi estatisticamente diferente, sendo seu valor médio cerca de quatro vezes maior no G2 em relação ao G1.
Conclusões: Em pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide, a RIT após TT mostrou uma eficácia razoável. Valores elevados de Tg estimulada pré-RIT estiveram associados à persistência de doença após 01 ano do tratamento. Independentemente do estadiamento anatomatológico do tumor, pacientes com valores elevados de Tg-pré devem ser monitorados com maior vigilância e provavelmente podem se beneficiar de maior dose terapêutica.