Simone Cristina Soares Brandao

Introdução: Na insuficiência cardíaca causada pela ação tóxica de quimioterápicos, como os antracíclicos e os novos anticorpos monoclonais, a alteração da função adrenérgica cardíaca medida pela metaiodobenzilguanidina marcada com iodo-123(123I-MIBG) parece preceder a queda da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), podendo ser usado como um marcador de cardiotoxicidade.
Objetivo: avaliar o risco cardiovascular de pacientes(ptes) com câncer de mama que foram submetidas a tratamento quimioterápico com antracíclicos, associados ou não ao anticorpo monoclonal do receptor HER-2(Herceptin), através de avaliação clínica, eletro e ecocardiográfica, escore de risco de Framingham e cintilografia cardíaca com 123I-MIBG.
Métodos: No período de novembro de 2010 a maio de 2012, 20 ptes com câncer de mama, que foram encaminhadas para avaliação de risco cardiovascular, participaram deste estudo. Foram analisadas variáveis clínicas e laboratoriais para o cálculo do escore de risco de Framingham; antropométricas para cálculo do índice de massa corpórea(IMC); e ecoDopplercardiográficas para avaliação da FEVE. Na avaliação da atividade simpática cardíaca, as variáveis analisadas foram: relação do índice de captação do 123I-MIBG entre o coração e o mediastino(RC/M) e a taxa de clareamento(TW). Estas ptes foram ainda divididas em dois grupos de acordo com o tratamento quimioterápico: G1(10 pts) – antracíclicos associados ao Herceptin; e G2(10 pts) – apenas antracíclicos. As variáveis foram comparadas entre os grupos. Valor p <0,05 foi considerado estatisticamente significativo.
Resultados: A idade média foi 57,3±13,8 anos e o IMC 27,9±4,0. O escore de Framingham médio foi 5,7%, o que caracteriza um subgrupo de baixo risco de eventos cardiovascular em 10 anos. Das 20 ptes estudadas, apenas duas apresentaram alterações eletrocardiográficas e a FEVE média foi 67,8±4,0%. Em relação a atividade simpática cardíaca, 82,4% das ptes mostraram uma TW aumentada e 25% uma RC/M diminuída. Em relação aos grupos, não foram observadas diferenças significativas entre as variáveis clínicas, eletro e ecocardiográficas. Entretanto, no G1, a TW foi normal em apenas uma pte e em cinco este índice esteve acima de 30%(valor normal <19%). No G2, 44% das ptes mostraram uma TW normal ou levemente alterada e em apenas duas a TW foi superior a 30%. A RC/M foi normal em todas as ptes do G2, entretanto, no G1, 50% mostraram RC/M 1,8 (p<0,05).
Conclusões: Em mulheres com de câncer de mama, sem disfunção ventricular, submetidas à quimioterapia com drogas potencialmente cardiotóxicas, a avaliação da atividade simpática cardíaca com 123I-MIBG pode ser um marcador precoce de lesão cardíaca. O uso de antracíclicos com Herceptin proporcionou maior risco de hiperatividade adrenérgica cardíaca.